domingo, 1 de fevereiro de 2009

não fui eu

O Cristo inerte preso à cruz
A luz da vela que o reduz
À sombra triste na parede entrecortada

Dos lábios solta-se indulgente
A pressa inútil do não crente
Entre palavras que por si não dizem nada

Não fui eu
Não fui eu
Não deixei a porta aberta

Não fui eu
Não fui eu
Ficou-me a casa deserta

Ah como fugidio rumor
De passos que no corredor
Induzem na minha alma a dor da esperança vã

Sinais do tempo a humedecer
A voz que teima em enroquecer
E o corpo dorido pela noite no divã

Não fui eu
Não fui eu
Não deixei a porta aberta

Não fui eu
Não fui eu
Ficou-me a casa deserta

Como esta febre me destroí
Perdido o amor quanto me doi
Desceste em mim o cruel manto de tristeza

Em cada noite morre o amor
Que a solidão faz-se maior
Mal amanhece e volta o medo que anoiteça

Não fui eu
Não fui eu
Não deixei a porta aberta

Não fui eu
Não fui eu
Ficou-me a casa deserta

Não fui eu...


Jorge Fernando, by Ana Moura

Nenhum comentário: